domingo, 16 de maio de 2010

Nós, a noite, e o tal do eu sozinho

escrevo ao som
(despropositado mas momentaneamente/sempre fascinante)
de "A day in the life"



Pessoas.
Mais pessoas.
O dobro de pessoas.

Rostos totalmente desconhecidos, rostos totalmente queridos, e rostos totalmente gastos: os que conhecemos "de vista". Insetos gigantes, palco do eu sozinho (a simples referência já me valeu a pena), espaços disputadíssimos, e a ligeira impressão de que há algo de errado com a cidade. De encontro, outra ligeira impressão: a de que há algo de muito certo com a cidade.

As contradições!

Tudo resumido numa tirolesa que, ao invés de descer, subia. Tudo resumido na deliciosa bagunça rítmica dos hermetismos pascoais. Tudo resumido em minha dupla identidade universitária: amigos da faculdade de História me tornavam caçula; amigos da faculdade de música me tornavam velho; amigos outros me tornavam outro. Tudo resumido nas palmas que a platéia dedicava aos músicos em cada intervalo entre um movimento e outro do Carmina Burana (pra muitos isso significa um atentado às convenções dogmatico-musicais): o público domado de um concerto tradicional deu espaço ao público "popular", que aplaude ou vaia quando lhe apraz aplaudir ou vaiar; que não suporta as entradas e saídas do maestro ao final da apresentação. Contagiado pela multidão que alertara a si mesma que a música é a música - dentro ou fora de uma luxuosa sala de concerto -, o maestro regeu um bis, e o "Ó Fortuunaaaaaaa" pôde ser outra vez entoado por um trio de amigos que gozavam o fato de serem três dos poucos que conheciam a letra da obra.

As contradições!

Eu pensava: "oh, que lindo mundo de pessoas andando por esse centro iluminado e receptivo!"
E logo repensava: "ah, que sujo mundo de pessoas pisando nesse centro maltratado e hostil!"

Indivíduos avulsos compunham a cena. Figuravam imersos em sua solidão certamente mais contemplativa, mais cheia de amores breves, mais de olhar atravessado ao me ouvir passar cantando (quase naturalmente). Grupos e mais grupos de amigos aumentavam e diminuiam, protagonizando a tônica da noite: braços levantados (às vezes pulantes), celular no ouvido, e as variações do "me viu?" (onde vc tá? me achou?, tá me vendo?, tô pulando, tá vendo? à direita do palco... perto da árvore. ok, na catraca do metrô.)

Essa nossa imensa vontade de encontrar alguém.
(Você esteve por lá? Não te vi. Se procurei?)
E essa chance de surpresa que vem sempre com um gostinho de bem-vinda.




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Texto motivado pela "Virada cultural".

5 comentários:

Gabriel Hidalgo disse...

Ah! Noubs, você é o cara!
Ass: Gabriel

juuuzer disse...

Ah! Noubs, você é o cara! [2]


Sou sua fã *-* exemplo!


Ass: Jú (Composição)

diri disse...

Assim eu também vou me convencer de que você é o cara! ahaha
Queria ter participado mais desse seu relato, mas a preguiça foi maior... provavelmente se você me ligasse eu diria "Ixi, Noubar, estou em casa lendo qualquer coisa". Aí isso iria tão contra o seu espírito festivo que talvez esse post nem estivesse aqui agora. Pensando bem, que bom que eu não participei do seu relato ahaha.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

eu estava sempre pulando, mas era complicado me achar! haha
quase usei teu texto para apresentar na aula de Antropologia. [isso é um elogio!]
beijo, músico!

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