terça-feira, 30 de março de 2010

O velho e o Moço

"e se eu fosse o primeiro a voltar
pra mudar o que eu fiz
quem então agora
eu seria?"


Há três meses eu ainda era o mais novo de "minha turma" da faculdade. Indo mais longe: há cinco anos eu era um garoto de dezessete anos, no mínimo assustado com o mundo universitário. Era mais um, menos eu, todo fora de lugar. Tinha medo de fazer perguntas, tinha preguiça de ler os textos acadêmicos, e tinha a impressão de que o começo era o final. Minha temática predileta era o abandono do curso. Falavam dos "ismos", dos poetas românticos, dos grandes revolucionários, e eu mal sabia (mal sei) o que era História.

Hoje sou calouro calejado. Sou um dos mais velhos "da classe". Vejo adolescentes assustados, vejo outros talentosos, e vejo outros com a impressão de que estão num besteirol americano (acham que vão aprender a beber, que paticiparão de orgias sexuais e que representam a elite intelectual do país). Sou mais um, mais eu, aprumando meu lugar. Tenho medo de não ter textos pra ler, tenho preguiça de fazer perguntas, e tenho a impressão de que o começo é o começo, o meio e o fim ao mesmo tempo. Falam de jazz, de música clássica, dos grandes compositores e dos grandes instrumentistas, e eu bem sei que falam porque gostam de falar.

A segunda graduação é algo muito mais sutil, mais digerível, mais "foda-se o diploma". É onde se entra com a (quem sabe falsa) convicção de que se sabe o quer. É onde se julga conhecer os atalhos. É mais ou menos o que eu quero: é a consagração do meio-termo, do aqui e ali, do "sei onde estou me metendo", do "deixa comigo", do "confie em mim", do "não importa se é ou não esse o meu futuro".

Meio velho e meio moço, meio historiador e meio músico, sou esse exemplo de "mediocridade" invevitável/desejada. Sou a ausência talvez voluntária de especialização. Sou a abordagem distante, que sai de mim e me vê sentado na sala de aula, com anos passados e anos indefinidos.

Sou o meio do caminho.

O que olha e é olhado com receio. O que aponta e é o alvo. O que não atinge e o que é aparentemente inatingível.

Próximo,      distante,          descuidado, desolado, dissonante. De outro tempo. 

Dei a mim mesmo uma segunda chance. Ou entrei numa segunda fase. Volto e continuo: revivo o que ainda me é novidade pra não deixar que o amanhã seja fiel às minhas previsões.

Re-volto.


"e se eu for o primeiro a prever
e poder desistir do que
 for dar errado?"

sábado, 27 de março de 2010

Sábado

A vontade. O começo do que era ausente. O começo inconcebido, adiantado. E a tentativa de construir uma normalidade. É tão difícil forjar o exótico. Tão irreal ser irreal. Quando o incomum é um objeto de desejo, o comum prevalece. Nada é tão natural quanto não notar a presença do artificial. O abraço pode ser bem mais gostoso que o sexo. O silêncio é quase sempre mais bonito que o alarde. O alado, a libido, o dilema, o ditado, o delito, o detido: deitado, doente, dopado, danado. Domado. Ninguém faz exatamente o que quer. A exatidão deveria ter sua extinção formalizada. Um amigo lê duas páginas do dicionário diariamente, e me enche de esperanças literárias. Uma amiga não desperdiça mais do que cinco minutos com a normalidade. E eu teimo em surpreender minha própria obviedade. Brinco de exato. Ouço os gritos de sábado a noite. De um sábado a noite bastante contraditório. Solitário porque voluntariamente caseiro. "Vir pra São Paulo e ficar em casa?" Sim, São Paulo é minha casa, afinal. Dentro ou fora dela. Desde às oito da noite eu planejo ir à Paulista pra andar, andar, fones no ouvido, pessoas com trajes previsíveis, final de semana, esperança de alguma coincidência, de algum constrangimento, medo de que a pilha acabe, vontade de cantar mais alto, de impor uma trilha sonora ao mundo, o mundo silencioso, mesmo, de novo, batido. É meia-noite, e em quatro horas não saí do lugar, mas rodei por todos os lugares em que eu, previsível também, poderia estar. Encontrei com todas as pessoas que notariam minha presença, e falei bastante ao telefone. Já fiz músicas de amor, já escrevi cartas de amor, e enviei meu amor pelo correio, pelo rádio. Cartas de amor não podem ser extraviadas. Em dois minutos terei mais créditos em meu celular, e poderei mandar as mensagens atrasadas em minha mente. Ela dorme com ele. Outra ela dorme sem mim. Outra ela dorme sozinha. Outras tantas sequer têm sono. Eu não durmo antes de saber o que quero sonhar. "Portugal é o lugar ideal pra se perder alguém. Ou pra se perder de si mesmo". Dor de garganta, e uma febre dissimulada que nem ao menos aparece. Titia trouxe balas artesanais feitas com canela, gengibre e própolis: pesadelos. Talvez seja o gengibre. Talvez o mal cheiro venha do ralo. Talvez eu pare de fumar. Talvez eu volte a lutar karatê. Talvez, ma(i)s remotamente talvez, eu tenha matado meu anjo-da-guarda. Grande mas não mais dois. Enumeram: caixa d'água, pingo d'ouro, pão d'alho, e míngua meu repertório de apóstrofos bacanas. Tatu-tá-ti-vendo é nome de personagem do Guimarães, e reverbera em minha cabeça. Tripa Seca, Quase Nada, Pouca Telha, Rasga Trapo, Ranca Rabo, Dorme Sujo, Poupa Tempo, Pára Tudo. A palavra é o som da palavra. E o resto é sábado.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Notas aleatórias (introdutórias)

Testar


É a intenção travestida de avesso.
É a testura da palavra sem o acaso do papel.
É o gosto arbóreo de minhas noites campineiras.
É o intelectual no recreio.
É a compaixão pelo anti-social: o desprezo a quem quer a eterna companhia.

É ensaio de coral: tenores levantam/estiiiiiiicam o pescoço pra alcançar notas agudas;
                            baixos abaixam

É o vir... o vir por meio desta.
Ser mais leve. Ser quiçá leviano.

Sinto saudades: é o cabelo cortado preenchendo o chão do salão.
São cachos a-menos.

E a sombra virada de costas...
que (me) faz escurecer.

Mais tarde surge o sol, involuntário porque é cedo demais.


E o texto derrete... quase inexiste.


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P.S.:  Esse deve ser meu novo espaço de descarga virtual. Se quiserem/puderem, voltem sempre, divulguem, ocultem, desdigam. E, seja pelo motivo que cabe a cada um, divirtam-se!
Os textos às vezes serão como esse aí de cima: sem forma definida, sem assunto, sem valor algum. Noutras horas até poderei derramar impressões sobre algum livro, filme, peça, música, etc. Até música pode pintar por aqui, já que minha cara-de-pau anda bem lustrada. Como veem, talvez nada seja tão diferente do "Tempo Seu", porque mesmo eu, ligeiramente mal-acomodado, não mudo tanto assim.

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