domingo, 25 de abril de 2010

E se?

E se os erros fossem o pretexto pra uma nova chance? E se os domingos não oferecessem sensações tão polares (tristeza e alegria, ânimo e desânimo, "foi boa a semana" e "e agora"? E se a vida não dependesse tanto de tantas coisas? e se eu soubesse inglês? e se eu não me apaixonasse mais? e se eu não gostasse de futebol? e se não repetissem uns aos outros: "a vida segue", "bola pra frente"? e se houvesse respeito ao modo como cada um encara seu passado? e se eu deletasse meu passado? e se não existisse mais a interrogação? e se o "se" não fosse tão socialmente condenado? e se eu compusesse a canção dos seus sonhos? e se uma canção lhe trouxesse? e se eu perdesse a audição? e se a pena se ausentasse? e se eu mudasse pra bem longe? e se ela me chamasse? e se tudo é um filme? e se eu nunca fui seu grande amor? e se toda história não fosse remorso? e se nada fosse urgente? e se eu não estivesse comendo um chocolate a cada frase? e se acabar o chocolate? e se esquentar? e se o verão chegar bem mais tarde? e se eu não tivesse um bom motivo pra largar meu curso? e se tudo fosse no mesmo dia? e se eu fosse mais atencioso com minha mãe? e se eu voltasse a querer ser pai? e se eu ficasse parado? e se eu não visse ela em todas? e se eu não estremecesse ao ver o "____ acabou de entrar" na janelinha do msn? e se eu soubesse o que falar? "e se eu fosse o primeiro a voltar?" e se não fosse tão perto? e se o mundo assumisse seus bilhões de rostos? E se o Faustão desistisse dessa dança dos famosos? E se meu telefone tivesse bateria naquele justo momento? E se eu tivesse créditos no outro justo momento? E se ela me ligasse nalguma das vezes em que andei com o celular na mão, desconfiando da honestidade do silêncio? E se amanhã não fosse segunda-feira? E se eu ainda preferisse o samba? E se eu já soubesse sambar? E se hoje eu não tivesse visto/lido muito Liniers? E se não tivesse ouvido "Qualquer Coisa" amiúde? E se eu voltasse a escrever cartas? E se eu acabasse? E si?
E se?
Surpreendo-me pensando e imaginando um pôr-do-sol.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Outono (em meus olhos)

Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite
(Drummond)




Faz tempo que não anoiteço. Durmo com a luz do sol impressa em minha mente. Perco a hora mais facilmente do que é comum acontecer. Respiro querendo notar minha respiração.

Minha identidade é meu violão. Feito mochila. Feito motivo pra parar em qualquer lugar e despistar a solidão.

Adoro o Outono.

O Outono é a liberdade disfarçada de estação.

É a democracia vestuária; é o sol insuficiente; é jogar nos dois times; é o casamento da blusa de frio com a bolsa.

É a chance de eu me oferecer pra, num abraço, insinuar-lhe
calor. É o estritamente necessário pra que eu tente falar o que sinto. É a oportunidade pra eu me vestir de mim.

O outono talvez seja tudo e nada do que vivo: o amor inteiro versus o amor nenhum.

Ela não deveria dormir.
Seus olhos são tão lindos...
que fechá-los soa como desperdício.
Soa como afronta aos demais olhares,
dispertos,
dispersos de si mesmos.
Reféns.
Ela não deveria dormir.

não numa noite como essa.

(Nesse momento passa um trecho de "Carmina Burana" em minha cabeça: o trecho - instrumental - mais singelo de todos

e eu, ouvinte resignado por não poder controlar meu inconsciente, me divirto)

Talvez eu é que não devesse dormir tanto.
Se minhas noites são dias, resta-me avizinhar o sol de estrelas,
e fingir que a claridade de meu outono não passa de um bom sinal.

Bons momentos, eu sei, se aproximam de meus sonhos (olhos), que são tão imensos quanto musicais.

Quando aquela moça aceitou me ouvir cantar, mal sabia ela que ali estavam minhas
 mais sinceras                 (e vermelhas)          
notas musicais. 

Cantava, de harmonia e letra decoradas: "quando eu soltar a minha voz por favor entenda / é apenas o meu jeito de dizer o que é amar"





O   For-tu-na
mi     fá     ré    ré
ve-lut lu-na
mi    fá   ré   ré
sta-tu va-ri-a-bi-lis
lá    sol  lá  sol sol fá mi

(Carl Orff)


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Fecho o caderno, desligo meu modo aleatório, e sou novamente um internauta que precisa editar o texto antes de publicar (itálicos, cores, tamanhos). Penso: acho que ninguém vai entender nada. Segunda resignação do dia, e um último sorriso de "tudo bem, vai".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Insolação

                                                                abraçar
Eu só queria poder te                   abraçar             abraçar
                                          abraçar                              abraçar
                                                         abraçar  abraçar

           antes da   insolação
                     porque o amor imenso é o mar, e o mar...
                         
                          o mar não acaba nunca.
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Como às vezes me acontece, saio de um filme num estado de inexplicável emoção. Deixo a sessão e ela segue em minha mente, em minhas palavras, em meus trejeitos. Insolação invadiu o meu passado e repaginou minhas memórias. Encarou o meu presente e o fez ainda mais exacerbado, indeferido e autônomo. Especulou o meu futuro e ratificou sua anulação.

Sou o velho decadente que ora passa por louco, ora por sábio, e ora por velho e só. Sou os diálogos desencontrados, forçosamente artísticos mas tão reais em meu imaginário. Sou aquilo que não falei, mas pensei em falar. Tudo o que descartei é um pedaço de mim. Tudo o que não fiz é um pouco do que fui. Trago comigo o pedantismo pseudo-intelectual, e por vezes o transformo em vontade de solidão. Associo.

Gosto do Leonardo Medeiros, seria servo do Paulo José e, além de ter me encantado pela Simone Spoladore, sou explicitamente apaixonado pela Leandra Leal (sua voz, seu rosto de menina, seu corpo alvo e nada casto). Tais são os atores que figuram escondidos entre meus pensamentos. Na tarde de hoje, revejo-os em cada texto: leem pra mim. Trechos, desvios, fugas.

Rua augusta. Ando em busca de um caderno. Procuro um caderno vistoso, consistente, sem pautas: algo que me faça ter mais vontade de escrever. Uma trégua às palavras interesseiras. Há sempre o que se anotar. "É triste saber que nossa conversa será sobre a tristeza". "Você só está comigo por causa dos meus seios, parece". Não, não é isso. "Porque era ela, porque era eu". Isso talvez. Porque o mundo é tão grande quando estamos juntos. Isso sim.

Por que, a cada vez que a primeira nota da música tema do filme começava, eu achava que iria tocar Insensatez?

Por que insolação é tão insensatez?

Porque insensatez é música, e insolação é sonoro demais. Porque eu gosto de aproveitar as induções sensoriais de uma expressão artística. Insolação permite a construção de tramas paralelas durante sua exibição. É generoso. Não pede total atenção: sugere digressões, relações, analogias, nostalgias. É sobre o amor e sobre a perda, mas nem parece ser nada. Não faz sentido por si só. É repleto de significantes, mas não os vincula claramente a nenhum significado.

Preencheu-me de anseios criativos. Reatou meus laços com minha sensibilidade,
 
       e  me fez recordar que meu despertador não veste saia nem dá beijo de bom dia.


Preciso de uma quantia insensata de sol.





tal como preciso de um abraço teu.


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