sexta-feira, 2 de abril de 2010

Insolação

                                                                abraçar
Eu só queria poder te                   abraçar             abraçar
                                          abraçar                              abraçar
                                                         abraçar  abraçar

           antes da   insolação
                     porque o amor imenso é o mar, e o mar...
                         
                          o mar não acaba nunca.
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Como às vezes me acontece, saio de um filme num estado de inexplicável emoção. Deixo a sessão e ela segue em minha mente, em minhas palavras, em meus trejeitos. Insolação invadiu o meu passado e repaginou minhas memórias. Encarou o meu presente e o fez ainda mais exacerbado, indeferido e autônomo. Especulou o meu futuro e ratificou sua anulação.

Sou o velho decadente que ora passa por louco, ora por sábio, e ora por velho e só. Sou os diálogos desencontrados, forçosamente artísticos mas tão reais em meu imaginário. Sou aquilo que não falei, mas pensei em falar. Tudo o que descartei é um pedaço de mim. Tudo o que não fiz é um pouco do que fui. Trago comigo o pedantismo pseudo-intelectual, e por vezes o transformo em vontade de solidão. Associo.

Gosto do Leonardo Medeiros, seria servo do Paulo José e, além de ter me encantado pela Simone Spoladore, sou explicitamente apaixonado pela Leandra Leal (sua voz, seu rosto de menina, seu corpo alvo e nada casto). Tais são os atores que figuram escondidos entre meus pensamentos. Na tarde de hoje, revejo-os em cada texto: leem pra mim. Trechos, desvios, fugas.

Rua augusta. Ando em busca de um caderno. Procuro um caderno vistoso, consistente, sem pautas: algo que me faça ter mais vontade de escrever. Uma trégua às palavras interesseiras. Há sempre o que se anotar. "É triste saber que nossa conversa será sobre a tristeza". "Você só está comigo por causa dos meus seios, parece". Não, não é isso. "Porque era ela, porque era eu". Isso talvez. Porque o mundo é tão grande quando estamos juntos. Isso sim.

Por que, a cada vez que a primeira nota da música tema do filme começava, eu achava que iria tocar Insensatez?

Por que insolação é tão insensatez?

Porque insensatez é música, e insolação é sonoro demais. Porque eu gosto de aproveitar as induções sensoriais de uma expressão artística. Insolação permite a construção de tramas paralelas durante sua exibição. É generoso. Não pede total atenção: sugere digressões, relações, analogias, nostalgias. É sobre o amor e sobre a perda, mas nem parece ser nada. Não faz sentido por si só. É repleto de significantes, mas não os vincula claramente a nenhum significado.

Preencheu-me de anseios criativos. Reatou meus laços com minha sensibilidade,
 
       e  me fez recordar que meu despertador não veste saia nem dá beijo de bom dia.


Preciso de uma quantia insensata de sol.





tal como preciso de um abraço teu.


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2 comentários:

Unknown disse...

Bita, amei esse... beijos

Camila de Sá disse...

"o mar não acaba nunca" (azul)... agora essa frase não me sai da cabeça.

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