terça-feira, 20 de abril de 2010

Outono (em meus olhos)

Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite
(Drummond)




Faz tempo que não anoiteço. Durmo com a luz do sol impressa em minha mente. Perco a hora mais facilmente do que é comum acontecer. Respiro querendo notar minha respiração.

Minha identidade é meu violão. Feito mochila. Feito motivo pra parar em qualquer lugar e despistar a solidão.

Adoro o Outono.

O Outono é a liberdade disfarçada de estação.

É a democracia vestuária; é o sol insuficiente; é jogar nos dois times; é o casamento da blusa de frio com a bolsa.

É a chance de eu me oferecer pra, num abraço, insinuar-lhe
calor. É o estritamente necessário pra que eu tente falar o que sinto. É a oportunidade pra eu me vestir de mim.

O outono talvez seja tudo e nada do que vivo: o amor inteiro versus o amor nenhum.

Ela não deveria dormir.
Seus olhos são tão lindos...
que fechá-los soa como desperdício.
Soa como afronta aos demais olhares,
dispertos,
dispersos de si mesmos.
Reféns.
Ela não deveria dormir.

não numa noite como essa.

(Nesse momento passa um trecho de "Carmina Burana" em minha cabeça: o trecho - instrumental - mais singelo de todos

e eu, ouvinte resignado por não poder controlar meu inconsciente, me divirto)

Talvez eu é que não devesse dormir tanto.
Se minhas noites são dias, resta-me avizinhar o sol de estrelas,
e fingir que a claridade de meu outono não passa de um bom sinal.

Bons momentos, eu sei, se aproximam de meus sonhos (olhos), que são tão imensos quanto musicais.

Quando aquela moça aceitou me ouvir cantar, mal sabia ela que ali estavam minhas
 mais sinceras                 (e vermelhas)          
notas musicais. 

Cantava, de harmonia e letra decoradas: "quando eu soltar a minha voz por favor entenda / é apenas o meu jeito de dizer o que é amar"





O   For-tu-na
mi     fá     ré    ré
ve-lut lu-na
mi    fá   ré   ré
sta-tu va-ri-a-bi-lis
lá    sol  lá  sol sol fá mi

(Carl Orff)


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Fecho o caderno, desligo meu modo aleatório, e sou novamente um internauta que precisa editar o texto antes de publicar (itálicos, cores, tamanhos). Penso: acho que ninguém vai entender nada. Segunda resignação do dia, e um último sorriso de "tudo bem, vai".

3 comentários:

. disse...

descobri isso aqui. e gostei bastante.
bjim! :)

Unknown disse...

bacana!

diri disse...

Formatação diferente, textos diferentes... nada como a vocação para inflar as velas desse meu amigo. Parabéns, suas notas vermelhas me fascinaram.

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