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Certa vez vi essa frase em um nick de msn. Identifiquei-me de pronto. Busquei a autoria, mas não encontrei. Que seja: o certo é que o autor, nalgum momento, pensou em algo que eu pensaria. Isso é o gostar (ou, como é óbvio, é a essência da identificação). "Se o telefone não tocar, sou eu" me parece a tradução, em atitude literária, da (minha) falta de atitude. É buscar na ausência aquilo que nos constitui. É olhar melhor para uma característica, e torná-la mérito. Ponto de vista: palavra.
O que me interessa na frase, no entanto, é o tanto que ela repercute: é o restante das coisas que ela representa. Além de ser o cara que não irá te fazer uma ligação, também sou aquele que não irá mandar a mensagem, que nao mandará o email, e que não falará contigo mesmo suspeitando que daria uma boa conversa. Isso não quer dizer que não haja vontade. Há mais que isso: há hesitação. E hesitar é introduzir o desistir. Medo de inconveniência. Despeito, complexo, e uma resignada vontade de deixar pra depois.
Perguntam-me quantas pessoas deixei de conhecer devido à minha timidez indevida. Acho que talvez me seja necessário deixar de conhecer muitas pessoas para que eu conheca melhor as poucas que me bastam, ou pra não me desconhecer por completo. Se não telefono e não escrevo, é previsível que meus principais amigos também nao telefonem, e é por aí mesmo. E como se dá a relação? É desse jeito: todos tentando provar pra si mesmo que a solidão não é tão ruim. Acho de verdade que não é. Todos nós, esperando algo. O silêncio diz muito. Atrai-nos.
O que me alegra, então, é o valor que ganham as manifestações de carinho em que estou envolvido. Não digo às pessoas que as amo, não distribuo abraços artificialmente calorosos, e não coleciono melhores amigos. Por tudo isso, cada pedacinho de afeto é a mim um grande pedaço de alegria. Não é fresta aberta pela carência: é sinceridade. Minha avó, ídolo maior, nunca disse que me ama. Nunca precisou. Meu grande amigo não gosta de msn nem de telefone. Anda se acostumando. A maioria de minhas palavras não suportam serem escritas. Falam sozinhas e silenciosas. Mortas-vivas.
Os sentimentos são mais autênticos enquanto não são manifestados. Têm a pureza instantânea do impensado, do imponderado, do indizível.
Se as noites não fossem tantas, meus dias seriam finais de semana. Seriam melhores. Esperados. No fundo, sei que eu e todos nós só precisamos merecer um pouco mais de carinho.
E chega de abraços gratuitos. A paz mundial custa caro demais.
Não começa na avenida paulista: dispensa camisetas brancas e discursos esverdeados.
...
Àqueles que não ouviram o telefone tocar, saibam que este é meu jeito de dizer "Oi..., tudo bem?"
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Texto influenciado pela leitura de "Esperando Godot", de Samuel Beckett. Trecho citável:
"As lágrimas do mundo têm uma constância inabalável. Para cada um que pára de chorar, em algum lugar outro começa. O mesmo vale para o riso. Portanto não falemos mal de nossa geração. Ela não é mais infeliz que as anteriores. Não falemos bem, tampouco. Não falemos nada sobre isso."
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O que me alegra, então, é o valor que ganham as manifestações de carinho em que estou envolvido. Não digo às pessoas que as amo, não distribuo abraços artificialmente calorosos, e não coleciono melhores amigos. Por tudo isso, cada pedacinho de afeto é a mim um grande pedaço de alegria. Não é fresta aberta pela carência: é sinceridade. Minha avó, ídolo maior, nunca disse que me ama. Nunca precisou. Meu grande amigo não gosta de msn nem de telefone. Anda se acostumando. A maioria de minhas palavras não suportam serem escritas. Falam sozinhas e silenciosas. Mortas-vivas.
Os sentimentos são mais autênticos enquanto não são manifestados. Têm a pureza instantânea do impensado, do imponderado, do indizível.
Se as noites não fossem tantas, meus dias seriam finais de semana. Seriam melhores. Esperados. No fundo, sei que eu e todos nós só precisamos merecer um pouco mais de carinho.
E chega de abraços gratuitos. A paz mundial custa caro demais.
Não começa na avenida paulista: dispensa camisetas brancas e discursos esverdeados.
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Àqueles que não ouviram o telefone tocar, saibam que este é meu jeito de dizer "Oi..., tudo bem?"
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Texto influenciado pela leitura de "Esperando Godot", de Samuel Beckett. Trecho citável:
"As lágrimas do mundo têm uma constância inabalável. Para cada um que pára de chorar, em algum lugar outro começa. O mesmo vale para o riso. Portanto não falemos mal de nossa geração. Ela não é mais infeliz que as anteriores. Não falemos bem, tampouco. Não falemos nada sobre isso."
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15 comentários:
Ora. Que bom te ler!
“E hesitar é introduzir o desistir” que bela frase, que tapa na cara, gosto do jeito como você escreve. Gostei do texto, “Os sentimentos são mais autênticos enquanto não são manifestados. Têm a pureza instantânea do impensado, do imponderado, do indizível”, não sei se eu concordo com isso, creio que os sentimentos são mais idealizados quanto não são manifestados, será? Ou talvez, certas frases, ditos, manifestações tenham se tornando tão banais que perdem a pureza, não sei. Lendo a tua frase, lembrei-me na hora do Pessoa “O amor, quando se revela, não se sabe revelar”.
Enfim, tantas teorias, pensamentos, gostei muito do texto, da frase do telefone e de tudo o que ela representa.
Enfim...um beijo!
Fantastico!!!
Me fez bem...
Ana*
Muito bom!!!
Bjs
Amanda
Me encontrei nesse texto
Parabéns
O MELHOR TEXTO QUE EU LI EM 2011!
Adorei de verdade rapaz, falou tudo. Eu bem poderia ter escrito, mas não faria tão bem feito. Falou direto com minha alma.
Um abraço muito satisfeito pela leitura!
"A maioria de minhas palavras não suportam serem escritas. Falam sozinhas e silenciosas. Mortas-vivas."
Bonito de verdade, Noubar. Talvez as coisas existam com mais força quando não são representadas, não é?
Acho que o melhor que posso fazer após ler o texto é dizer que estou sem palavras. Sem palavras para escrever. Sendo assim, talvez fosse melhor não deixar comentário algum, mas, pelo menos assim você sabe que passei por aqui! Talvez não fosse preciso dizer, mas já disse...rs
Beijos,
Mi
http://letras.terra.com.br/emicida/1493922/
Uau, eu achei esse texto de uma sutileza sensacional. Geralmente quando o telefone toca, sou eu. Talvez você esteja certo, e os sentimentos não manifestados e as palavras ditas em silêncio sejam realmente mais autênticos. Mas se meu sentimento não é autêntico, ele é verdadeiro, e eu gosto de ouvi-lo vibrar no tom da minha voz - pra senti-lo real -, mesmo que ninguém escute.
Mas isso é uma coisa minha. Um amigo não precisa me ligar ou chover abraços em mim pra eu saber que ele se importa; mas se ele ligar, eu vou amar conversar durante horas, e se quiser me abraçar, vou ser quente e confortável como um travesseiro. :}
Que seja sincero, apenas.
Eu amei esse seu blog que eu não conhecia *-* e fiquei feliz em te ver novamente no meu mundinho. Mas agora eu sei que você pode está lá a qualquer hora, mesmo que eu não te veja. Isso me deixa feliz.
Beijos com carinho :}
gosto disso ai, parece bem sincero
você deve ter ficado um pouco mais forte depois de escrever isso. no começo, pensei eu que fosse uma neurose tua, (singelamente aparenta ainda), são palavras de um moço diferente, palavras que ,inconscientemente, falam de um receio que te levou a crer na vida simples. no contado simples . na comunicação simples . você parece um moço sem pressa e isso eu não achei que era assim. pensei que um dia ia te ver cantando em alguma rua pra alguem que você nem conhece e a tua simplicidade seria mais na tua palavra e não no seu contato.
lógico, quem sabe eu não tenho ideia ainda do eu li de você
pode ser engano meu total
mas eu sou um cara que lê e diz, certo? - um homem
Nossa, primeira vez que venho aqui e estou encantada com a forma que você escreve.
Adorei mesmo.
Esse vai ser um daqueles textos que me fará pensar muito alguns dias.
Obrigada por isso.
Comentei no facebook pra todo mundo "ouvir". beijos da Carol Kuk
"Emicida- Sei la"
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