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Confissão: o título desse post seria o título de um novo blog. Desde que saí do Brasil (ainda em agosto do ano passado) pra passar um semestre em Madrid, a idéia era criar algo novo, que surgisse do também novo eu que surgiria (e surgiu) por lá: publicar fotos, videos, e todas essas deliciosas adolescências que eu trouxe pros meus 24 anos. (Mais um ano e eu cantarei "tenho 25 anos de sonho e de sangue e de américa do sul" aos gritos, em karaokes da Liberdade, em banheiros sujos de bares, pra você.) Digo mais: a idéia era misturar tudo, inclusive os idiomas. Explico: pensava, com a mente de uma dezena de meses atrás, e outros milhares de neurônios a mais, que seria uma baita vantagem escrever em outras línguas e, sei lá, praticar novos signos expressivos. Com espanhol e francês, as línguas que mandei por lá, os signos nem são tão novos assim.
Pois bem, a crise.
Um texto sai mais fácil quando há crise. A crise: voltei mandando até que bem nos novos idiomas, mas pra escrever sempre rolam aquelas limitações, e no fim você inevitavelmente acaba se sentindo feito um imbecil, formando frases toscas, repetindo adjetivos, e se confundindo todo com o uso dos pronomes. A real crise: voltei mandando mal no português. Voltei sem graça, sem ânimo, sem idioma materno. Agora já sou capaz de juntar um par de palavras e frasear outonos* por aí. De me contentar com meu pouco, ao menos.
Semanas atrás a crise já havia contaminado outras instâncias criativas. Isso, algo meio cancerígeno. Eu não tinha vontade nem de tocar violão: muito menos de cantar ou compor algo novo. Tenso. De filme argentino em filme argentino, me entretinha. Pois a saída, ou melhor, o achar uma pista para a saída, foi justamente falar um pouco de meu conflito de compositor que não compõe, que já não consegue sacar o exato momento em que o rio molha o mar, que perde na corrida versus o amor, que inventa frases somente pra sabê-las de cor. Era isso! E era também aquele irmão nascido em Madrid, mas que já tem seus 21 aninhos, e que me mostrava que, po, nossa vez tá sempre aí. Que "tamojunto". Alguns choros trocados depois, e justamente em uma segunda-feira morta, de noite, no IA, em que ele me convidou pra ver seu pai tocar choro, saiu o começo (que é o final) de "nuestra vez", música nova que reapresento aqui, marcando minha possível volta a esse mundo textual.
Daqui três meses me mando pra França, e quem sabe de lá saiam outras coisas, em português mesmo, e que me façam voltar ainda com a idéia de gravar um registro/disco com minhas canções.
Ouçam (ainda que outra vez). Se gostarem, divulguem, compartilhem, encham o saco da galera, porque eu tenho vergonha de fazê-lo, e, bom, isso não tá com nada.
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*Camila, sim, é um plágio do "assumir primaveras"
"Nuestra vez" Letra e Música: Noubar Sarkissian Junior
"Quem viu o rio molhar o mar?
Pra quê saber nadar
se o amor...vai mais depressa?
Eu não vi...
eu invento o que eu sei de cor
pra quê saber cantar
se a solidão cala o que eu canto?
E vem você dizer preu fazer música contente...
sua mente cheia de flor
mas pra quê?
se o ofício do cantador
é assimilar o alegre
tocá-lo
levá-lo de cor em cor
é a tristeza enfeitar, enfeitarrrr!
(entra outra pessoa)
por qué tú lloras
todo de una vez?
siempre habrá hora
de llorar
mira, vino el tiempo ahora
dijo es nuestra vez
tu concierto espera
para empezar"